Alguns meses antes dessa
parada forçada, ainda via-se muitos orgulharem-se da descendência europeia e se
tinha também uma descendência negra ou índia, sobrepor a do velho continente,
porque certamente, em seu entendimento, era superior. Até que o continente
europeu nos presenteou com o vírus mutado e Itália, França, Espanha, Portugal,
os países mais cotados pelos brasileiros, somaram mortes numa progressão
aritmética.
Essa atitude dos descendentes de mudar rapidamente de opinião mediante uma crise, é de fazer vergonha aos ascendentes
que por motivos diversos enfrentaram a travessia do Atlântico com muita
esperança, fé e pouca tecnologia para darem no Brasil a fim de fazerem daqui
sua morada. Demonstrou que a cidadania brasileira não está firmada, o povo não
tem uma identidade e o que antes era maravilhoso deixar o Brasil pela Europa,
aqui se tornou um melhor refúgio e mesmo com as inúmeras reclamações das
autoridades governamentais, ainda temos governantes e profissionais dedicados
em não “deixar a peteca cair”, neste caso, enfraquecer a progressão aritmética
do vírus e salvar vidas.
No globo, o humano necessita
para sua própria sobrevivência, reconhecer o outro como humano. Esse vírus é
democrático, não escolhe gênero, classe social e nem econômica. Pouco importa
para ele a sua crença, com quem você faz sexo, se você se locomove de carro ou
transporte público. Algo microscópico está ensinando que o humano preto e o
branco são iguais; que o humano heterossexual na hora do medo da morte pode
receber cuidados de um profissional da saúde homossexual; que americanos, indianos,
africanos, mexicanos, brasileiros, franceses, poloneses etc., são humanos
iguais. O vírus conseguiu provar na prática, com sua metodologia democrática, a
universalidade dos seres humanos, o que se nega em Direito, na Economia, no
Social.
Para quem quiser aprender, é
um rompimento de paradigmas, um desapego do consumismo exacerbado, da
alimentação danosa, das festas vazias de fraternidade, cheias de vaidade e
exageros de toda sorte.
Estar em casa com os seus
era desculpa para as ausências de trabalho, escola, festas, reuniões de orações
etc. E agora que o local mais seguro para estar é na sua casa! Por que está
criando tanto conflito por isso? Qual a muleta da vez?
Pode-se responder que seja a
economia, o comércio, que onde já se viu criança ter aula à distância, que: "estou de férias,
tenho que passear".... não há local no mundo, neste momento, para passear! As
possibilidades mudaram. As questões são outras e não acharemos as respostas tão
cedo se passando esse contexto não refletirmos e não voltarmos para dentro de nós
mesmos.
O que deixaram para nós de
30, 40, 50, 60 anos ..., que somos a maior parte da energia produtora de um país, é o
fundamento ou paradigma do “toma lá dá cá”, da violência emaranhada na
sociedade, do poder econômico sobrepor aos valores humanos, do ter para ser e
não do ser pelo ser, das profissões top 10, do corpo belo, modelado, jovem, de
cor branca e cabelo liso, do homem economicamente próspero, da mulher
economicamente inferior ao homem, do macho e da fêmea, entre tantos outros, que
agora, gritos são ouvidos nas sociedades de: “Liberte-me!”.
Quantos já disseram isso
quando foram julgados por não trocar de carro no ano, por dissolver um
casamento, por assumir-se gay, por não ter uma moradia em um bairro considerado
nas imediações do centro, por na ser da cor da maioria de sua sala, por ser
mulher estudante de Engenharia, por ser homem estudante de artesanato. Cobramos
incessantemente os governos, será que não somos hipócritas?
Esses conceitos e ou
preconceitos advém do inconsciente coletivo dos nossos antepassados que nos
chegou por apropriação social. Vemos que não é possível estender essa atitude
de descaso, omissão ou ação desordenada com o planeta, as pessoas e os animais,
porque a Física ensina que “toda ação gera uma reação” e estamos recebendo a
reação da toxicidade de nossos antecessores e de nós mesmos. Se olhamos para
nossos filhos, sobrinhos, as crianças em geral e enchemos nossos olhos de
alegria com suas brincadeiras felizes, o que deixaremos para eles se somos seus
antecessores e os responsáveis no agora por parte dessa desordem?
Considerando uma colcha de
retalhos, cada pedacinho costurado, um trabalho de formiguinha feito por mim,
por você, por nós, certamente resultará em uma colcha de ações positivas para a
humanidade, fato que o vírus também provou, pois na obrigatoriedade de ficar em
casa, a circulação do vírus diminuiu e provou também que a poluição diminuiu,
claro que foi um esforço coletivo forçado, mas o resultado foi positivo. Então,
se colocarmos a intenção boa para algo e o esforço for coletivo, também
atingiremos resultados positivos, a não ser que as pessoas decidam só agir
quando algo externo as force para tanto.
Na mesa, as cartas! Neste
caso, não são apostas, mas escolhas!
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